segunda-feira, 14 de julho de 2014

Agentes da Fundação Casa dizem ser ameaçados e agredidos em Ribeirão

Funcionários reclamam de efetivo insuficiente e superlotação de menores.
Instituição abriu sindicância e diz que vai inaugurar novo centro na cidade.


 
Do G1 Ribeirão e Franca

Agentes da Fundação Casa em Ribeirão Preto (SP) dizem que trabalham inseguros porque são constantemente ameaçados e agredidos por internos.

O caso mais recente ocorreu na noite do último sábado (12), quando um funcionário teve o nariz quebrado e sofreu ferimentos pelo corpo, após ser atacado por cinco adolescentes, no momento em que abria um dos quartos para que os menores pudessem ir ao banheiro. A Polícia Civil investiga o caso e a instituição abriu sindicância para apurar a denúncia.

Na manhã desta segunda-feira (14), o agente agredido realizou exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal de Ribeirão Preto. Ele está afastado por sete dias, mas disse que não tem condições psicológicas de voltar a trabalhar. “Eu senti medo de morrer e agora estou muito abalado, não sei quando vou ter condições de voltar. Um deles disse - na gíria deles - que se não conseguisse me matar naquele momento, a gente ia se encontrar no mundão", afirmou.

O servidor, que pediu para não ser identificado, com medo de represálias, reclamou da falta de agentes no centro socioeducativo, alegando que estava sozinho em uma das unidades do complexo na noite de sábado, quando deveria trabalhar com outros dois funcionários, além de um vigilante. “Tem módulo com 56 adolescentes, que seria para, no mínimo, nove agentes realizarem a segurança, mas só tem dois [atuando]. Isso é falha na gestão, a gente vem cobrando há muito tempo, mas eles fazem a gente trabalhar com o que tem.”

Um agente que socorreu o funcionário agredido confirmou que deveria trabalhar no mesmo complexo que ele, mas foi deslocado de última hora pela direção para substituir outro servidor. “Ao assumir o plantão, o superior imediato pediu que eu assumisse outro módulo. Está faltando funcionário e isso é inseguro tanto para a gente, quanto para os adolescentes, mas o sistema não reconhece isso", reclamou.

Agente penitenciário mostra uma das marcas da agressão sofrida no último sábado (Foto: Paulo Souza/EPTV) 
Agente penitenciário mostra uma das marcas da
agressão sofrida no último sábado (Foto: Paulo
Souza/EPTV)

Crise interna
A Fundação Casa de Ribeirão Preto enfrenta uma crise interna desde abril, quando 40 internos fugiram da instituição em dois dias diferentes, durante a greve dos agentes penitenciários. A assessoria da instituição informou que apenas metade dos fugitivos foi recapturada. O Ministério Público abriu um inquérito para investigar supostas agressões contra seis menores, após as fugas.

A Promotoria em Barretos (SP) também instaurou uma ação civil pública para investigar a suposta falta de vagas na unidade de Ribeirão Preto. No inquérito, o promotor Flávio Okamoto questiona a instituição por ter negado solicitações para internação de quatro jovens, em maio desse ano. Segundo ele, há superlotação de internos no centro em Ribeirão Preto.
Um terceiro agente que também pediu para não ser identificado, confirma a tese da Promotoria. O trabalhador declarou que não só os funcionários, mas os familiares são ameaçados pelos internos e reclamou que, na maioria das vezes, os adolescentes não são punidos devidamente pela direção da Fundação Casa.

Agentes fotografaram lençóis sujos de sangue, após agressão (Foto: Paulo Souza/EPTV) 
Agentes fotografaram lençóis sujos de sangue,
após agressão (Foto: Paulo Souza/EPTV)

“Muitos de nós temos que chegar escondidos em casa. Nós temos colegas que são agredidos na rua, com as famílias, e outros dentro da unidade. Mas a gente tem que trabalhar, tem que levar alimento para casa, tem que se sujeitar a isso. O que acaba nos complicando é a falta de imparcialidade da Corregedoria. Parece que a intenção é mais punir os agentes, do que apurar a situação”, criticou.

Sindicância
Em nota, a assessoria da Fundação Casa alegou que, por questões de segurança, não informa quantos funcionários trabalham no complexo em Ribeirão Peto, mas ressaltou "que o número era suficiente para a segurança do centro no dia [sábado]."
Ainda de acordo com a assessoria, a Corregedoria Geral da instituição vai instaurar sindicânia para apurar o motivo da agressão e que o prazo para a investigação ser finalizada é de até 90 dias. Por fim, comunicou que está construindo um novo centro em Ribeirão Preto para atender 64 jovens, o que deve sanar a superlotação na unidade.
"Em Ribeirão Preto, a Fundação Casa mantém centros socioeducativos há mais de 20 anos, constantemente visitados por promotores e demais autoridades do sistema de justiça, que reconhecem a significativa melhora nos últimos anos."
Complexo da Fundação Casa em Ribeirão Preto tem três centros de internação e um de semiliberdade (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

2 comentários:

  1. A casa nova ja foi inaugurada, esta funcionando com 8 adolescentes. Mas o quadro de funcionarios de rp esta muito baixo.

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  2. A unidade que esse servidor foi agredido tem capacitação para 83 adolescentes mais hoje abriga 136 adolescentes eh uma vergonha

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